quinta-feira, 29 de maio de 2008

Biomecânica – Parte II


Dando continuidade a nosso estudo sobre biomecânica, hoje discutiremos mais dois princípios biomecânicos utilizados no tênis, que são Momentum (Massa x Velocidade) e Energia Elástica.
Momentum
A relação massa x velocidade, é a força gerada por um corpo e no tênis, existem dois tipos de força a serem estudados, a Linear e a Angular.
A Linear ocorre quando a transferência do peso do corpo em direção ao golpe ocorre em linha reta. O exemplo mais comum aqui é o slice de backhand.
Repare na seqüência abaixo, como Federer quando executa o slice de backhand utiliza ao máximo sua força linear, pois repare que desde a preparação até a terminação, a rotação de ombro e quadril é nula.


Em contrapartida, a força angular é produzida utilizando-se da rotação dos quadris e ombros, como notamos na seqüência de forehand abaixo, onde Fernando Gonzalez utiliza ao máximo a rotação de ombro e quadril para gerar força em seu golpe.


Energia Elástica

A energia elástica é a energia armazenada como resultado do estiramento de um músculo, ou seja, toda vez que um músculo está sendo estirado, existe uma força ou energia que está sendo acumulada neste processo, e esta energia é constantemente utilizada nos golpes de tênis. O exemplo mais comum é o split-step, o qual armazena energia nas pernas e libera esta energia quando aterrissa, impulsionando o corpo do atleta. Nas fotos abaixo, vemos dois momentos no saque de Roddick em que ele está utilizando a energia elástica. Na primeira foto, ele estende o abdômen e utiliza a energia armazenada para pegar a bola o mais alto possível, e na segunda foto, vemos ele armazenando energia no braço que será utilizada no momento da pronação.



Esses são os dois princípios do blog de hoje, no próximo veremos o último princípio, que é a cadeia de coordenação.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Biomecânica - Parte I

Hoje em dia, em qualquer clube ou academia que se ensine tênis e, sobretudo que tenha uma equipe de treinamento, é muito comum ouvirmos falar em biomecânica, mas afinal o que é isso?
Biomecânica é o estudo do movimento humano, e é através dela que podemos estudar e definir os golpes e movimentos de um jogador e tentar fazer com que estes rendam com eficácia máxima.
Através do estudo da biomecânica, tentamos estabelecer o golpe com a melhor combinação de potência e controle e que reduza o máximo possível o risco de lesões.
Para estudar a biomecânica, antes de nos atermos aos golpes em si, é necessário entendermos alguns princípios biomecânicos. No tênis, os princípios biomecânicos utilizados são:
· Equilíbrio;
· Inércia;
· Ação e Reação;
· Momentum (Massa x Velocidade);
· Energia Elástica;
· Cadeia de Coordenação.
Nesse artigo, estudaremos o equilíbrio, a inércia e a ação e reação.

Equilíbrio

Existem dois tipos de equilíbrio, o estático (quando o corpo está parado) e o dinâmico (quando o corpo está em movimento) e, no tênis, que é um esporte de movimento constante, o que nos interessa é o equilíbrio dinâmico.
Aqui, temos que observar se o jogador mantém uma linha vertical (ou próximo disso) desde o solo até a cabeça quando executa um golpe em movimento.Veja na foto abaixo, como Juan Carlos Ferrero, apesar de estar em movimento mantém o corpo quase que totalmente na vertical, demonstrando um belo exemplo de equilíbrio dinâmico.



Inércia

A definição de inércia é: “Qualquer corpo em movimento retilíneo e uniforme (ou em repouso) tende a manter-se em movimento retilíneo e uniforme (ou em repouso).”
No tênis, sofremos a ação da inércia em diversas situações durante um jogo ou treino, ou seja, constantemente estamos sentindo a resistência do corpo ao mover-se ou quando tem que parar.
Quando o jogador está posicionado para devolução de saque, seu corpo está em repouso e deve enfrentar a resistência do mesmo em continuar parado no momento em que o adversário executa o serviço, executando o spli-step e se preparando para sair para um dos lados para executar a devolução.
Ou então, quando o jogador se movimenta para frente para buscar uma bola curta, deve, após executar o golpe, parar o movimento e mudar a direção do mesmo para se posicionar para a bola seguinte.
O estudo da inércia nos golpes é de extrema importância, pois o tempo que o jogador leva para executar movimentos como os descritos acima é de extrema importância para seu desenvolvimento em um jogo.Na foto abaixo, vemos Ana Bogdan enfrentando a resistência que seu corpo tem de permanecer parado, pois estava em repouso.




Ação e Reação
A Terceira Lei de Newton, também conhecida como a Lei da Ação e Reação diz que quando um corpo exerce uma força sobre outro corpo, recebe deste uma força de mesma intensidade, direção e sentido oposto à força aplicada.
No tênis, podemos observar isto em várias situações. Quando um jogador inicia seu movimento de saque, primeiro exerce uma força contra o solo ao flexionar os joelhos (ação) e em seguida sofre uma força de mesma intensidade e direção, mas em direção oposta ao saltar para golpear a bola (reação).
Podemos notar isso na seqüência de Roddick abaixo.


Este é também um princípio de extrema importância, pois todo golpe inicia-se com uma força exercida sobre o solo, e é este início ou força inicial que irá definir e influenciar o desenvolvimento do golpe ou movimento.
Esses são os três princípios do blog de hoje. No próximo, escreverei sobre momentum (massa x velocidade), energia elástica e, no último sobre a cadeia de coordenação, que em minha opinião é o princípio mais importante para técnicos e professores de tênis.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O Forehand Moderno - Posicionamento, Equilíbrio e Transferência de Peso

Como qualquer golpe hoje em dia, o forehand é uma poderosa arma para jogadores em todos os níveis, seja ele executado na zona de conforto (bolas próximas) ou em movimento. Mas para a máxima utilização dessa arma, 3 fatores devem ser lembrados e utilizados freqüentemente.
Posicionamento, equilíbrio e transferência de peso são técnicas inerentes ao golpe e devemos entende-los como:
§ Posicionamento: a posição do corpo (pés, pernas, tronco, ombros, braço, cotovelo e mãos) antes do contato da raquete com a bola;
§ Equilíbrio: o mesmo descrito acima, logo antes e no momento do impacto com a bola;
§ Transferência de peso: a posição e movimento do corpo durante e após o impacto com a bola.

Posicionamento
Um dos erros mais comuns na execução do forehand é encontrado na preparação do golpe, ou seja, no início do backswing que sempre que possível deve ser feito antes do quique da bola, além disso, como hoje se utiliza a posição aberta (open stance) em quase 100% dos golpes, o jogador tende a passar com a cabeça a linha do joelho direito (caso seja destro) no momento da preparação do golpe, e isso faz com que após o impacto o jogador continue concentrando o peso do corpo no mesmo pé, quebrando assim a transferência de peso.
Para correção na preparação, temos que notar se, antes do quique da bola os pés e o posicionamento da raquete no backswing estão corretos. A raquete deve estar atrás do corpo na posição de espera, que é um pouco atrás da linha do corpo e com a cabeça para cima, e os pés devem estar no solo, sendo que o pé direito (se destro) deve estar de paralelo a 45º da linha de base. Além disso, vale notar que o braço esquerdo (quando destro) se encontra quase que paralelo a linha de base, devido a rotação dos ombros antes do impacto com a bola.
Uma maneira simples de identificarmos o correto posicionamento do jogador na hora da preparação é traçarmos uma linha reta e vertical imaginária partindo do joelho direito do jogador. Quando a cabeça do jogador estiver ultrapassando esta linha, o peso do corpo está desbalanceado e deve ser corrigido. Vale notar também que a correta flexão do joelho ajuda muito este tipo de correção.
Este posicionamento correto, além de útil para o equilíbrio, é também essencial para a rotação completa do corpo antes, durante e depois do golpe.





Equilíbrio
O equilíbrio na execução do golpe se refere ao ponto onde devemos concentrar o peso do corpo no momento do impacto da raquete com a bola. No forehand em posição aberta, um dos erros mais comuns em relação ao equilíbrio ocorre quando o jogador concentra o peso do corpo em direção ao seu braço esquerdo ou direito, quando a melhor maneira de obter controle total do golpe é concentrando o mesmo no centro do corpo, ou o mais próximo disto.
No momento do impacto o corpo do jogador deve estar quase que totalmente reto, não tendo nenhum ou quase nenhum grau de inclinação para quaisquer lados. Este posicionamento correto, além de útil para o equilíbrio, é também essencial para a rotação completa do corpo durante o golpe. Repare na foto abaixo, como José Pereira, executando um forehand em movimento, apesar de estar iniciando a rotação dos ombros mantém o tronco praticamente reto, com o joelho corretamente flexionado e a cabeça bem posicionada atrás da linha do joelho esquerdo.


Note também, na foto abaixo que, mesmo com a rotação do tronco já iniciada, Federer mantém a cabeça imóvel, ajudando com isto a manutenção do equilíbrio durante a rotação. Repare que a cabeça dele só irá acompanhar a bola após o término da rotação.
Como a rotação do tronco já foi iniciada, note que apesar do pé direito de Federer se encontrar no solo, é bem claro que o peso de seu corpo não está mais concentrado neste pé, pois aqui ele inicia a transferência de peso. Dependendo do tipo de bola, neste momento o jogador nem se encontra com os pés no solo.


Transferência de Peso
Por último, completando o movimento do golpe, temos que analisar a transferência de peso durante a execução do forehand. A transferência deve ser do lado direito do corpo para o lado esquerdo do corpo.
É comum vermos jogadores que iniciam o golpe concentrando o peso na perna direita, mas na seqüência não transferem o peso a outra perna, seja porque projetam o corpo para trás, mantendo o peso na perna direita, ou ainda porque quebram a transferência simplesmente trocando o posicionamento do pé direito pelo esquerdo. A correta transferência de peso, além de manter o equilíbrio do corpo, permite uma melhor utilização do mesmo, imprimindo maior potência ao golpe, além de posicionar o jogador para a recuperação de quadra e execução do golpe seguinte.



quarta-feira, 14 de maio de 2008

O Perfil do Novo Técnico

Hoje em dia, não só no Brasil, mas ao redor do mundo percebemos que está havendo uma mudança no perfil, ou seja, no conjunto de características e habilidades que um profissional que se propõe a trabalhar com tênis (seja ele competitivo ou social) precisa ter.
“Treinar um jogador, significa ensinar, exercitar e ajudar os jogadores a aprender habilidades relacionadas ao tênis, a melhorar seu rendimento e alcançar seu potencial. Mas também requer reconhecimento, compreensão e atenção de suas necessidades sociais emocionais e pessoais”(Martens, 1981; 1987).
Essa definição, que na minha opinião é uma das mais completas, nos mostra que o papel do treinador hoje é bem mais abrangente e extrapola os limites da quadra de tênis, principalmente quando trabalhamos com crianças e jovens.
O técnico hoje antes de qualquer coisa tem que responder a quatro perguntas que irão acompanhá-lo durante toda sua carreira:
“Qual a minha motivação para trabalhar como técnico de tênis?
“Quais são meus pontos fortes e fracos como técnico?”
“Qual é meu grau de dedicação e entrega a profissão?”
“Quais objetivos quero alcançar como técnico de tênis?”
A última questão é uma das mais importantes, pois é onde este profissional vai definir se vai construir sua carreira trabalhando com tênis social ou competitivo.
Segundo a ITF, a Federação Internacional de Tênis, o treinador possui distintos papéis a desempenhar durante sua carreira como técnico de tênis:
- Instrutor: dirigindo as atividades de seus alunos/jogadores;
- Professor: compartilhando conhecimentos e idéias novas;
- Motivador: proporcionando um enfoque positivo e de alta qualidade ao jogador;
- Educador: estabelecendo prêmios e sanções apropriados;
- Diretor: dirigindo e guiando os jogadores durante sua “carreira” no esporte;
- Administrador: planejando treinamentos com organização e eficácia;
- Agente de Publicidade / Comunicação: servindo de elo entre os meios de informação e o público em geral;
- Assistente Social: aconselhando, assessorando e dando apoio a seus jogadores, principalmente em momentos difíceis;
- Amigo: estabelecendo um bom relacionamento com o jogador;
- Analista: analisando, avaliando e tirando conclusões a respeito do esporte e de seu jogador;
- Estudioso: escutando, aprendendo, refletindo e buscando continuamente formas de melhorar e superar-se.

O papel do treinador é combinar todos estes papéis durante sua carreira. Nós técnicos temos que nos perguntar constantemente qual ou quais destes papéis necessitam de aprimoramento e, quando detectarmos isto procurarmos soluções para os mesmos.
Aqui em meu blog vou procurar discutir, dentre outros assuntos, um pouco de cada um dos papéis acima descritos, mas a pergunta que eu deixo aqui e que cada um deve fazer a si mesmo é:
Eu estou preparado para desempenhar estes papéis em minha carreira?

terça-feira, 6 de maio de 2008

Pico de Rendimento e Calendário

Os picos de rendimento e o calendário do atleta são duas ferramentas essenciais para o desenvolvimento da carreira de um tenista, há técnicos inclusive que os considere as duas ferramentas mais importantes no desenvolvimento desta carreira.
Você já faz isso?
Engana-se aquele que pensa que estas duas ferramentas só podem ser utilizadas com jogadores de alto rendimento, sejam eles juvenis ou profissionais, pois utiliza-las com seu aluno em seu clube ou academia, além de proporcionar excelentes resultados em relação a evolução do jogador, proporciona um diferencial de sua aula em relação a outros técnicos/professores. A única exigência para utilização destas ferramentas é que o atleta/aluno esteja disposto a participar de torneios durante o ano.
Mas afinal oque é isto?
Para estabelecer os picos de rendimento do atleta/aluno é necessária uma planificação de treinamento, seja ele tático, físico, técnico, mental ou fisioterápico baseado na programação de torneios do jogador durante o ano ou temporada.
Para isto, algumas ações se fazem necessárias:
§ O treinamento e o calendário devem estar voltados a alcançar o ponto máximo de rendimento nas competições mais importantes da temporada;
§ Este ponto máximo de rendimento deve ser definido com participação do técnico/professor junto com atleta/aluno, além dos demais profissionais envolvidos na equipe, como preparadores físicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e etc;
§ Pode-se estabelecer no máximo, de 5 a 6 picos por ano, visto que não é possível manter o pico de rendimento durante o ano todo;
§ A programação de treinamento deve realizar-se em ciclos, respeitando-se o equilíbrio entre carga máxima e períodos de recuperação;
§ Os períodos de recuperação são tão importantes como os de carga máxima.

Planejamento Anual e Macrociclos de Treinamento

O planejamento anual de um tenista, é a junção dos picos de rendimento, calendário e tipos de treino a serem realizados durante o ano, e para isto, há que se dividir este treinamento em Macrociclos. Os 4 Macrociclos mais utilizados são:
§ Preparação: geralmente é o que vai abranger a pré ou intertemporada, ou seja, é o treino que geralmente é realizado depois de um período mais longo de descanso, e onde aproveitamos para trabalhar correções e aperfeiçoamentos técnicos. A relação intensidade x volume de treinamento aqui geralmente é intensidade baixa e volume alto tanto para treinos técnicos como físicos;
§ Pré-Competição: este é o período anterior às competições, no entanto dentro dele podem haver algumas competições que servirão de preparação para aqueles torneios mais importantes e que tenham um pico de rendimento maior. Aperfeiçoamentos técnicos e treinos táticos são partes constantes desta fase de treinamento. Aqui utilizamos uma intensidade e volume médios, tanto para treinos técnicos como físicos.
§ Competição: esta é fase onde estaremos atingindo os picos programados, ou seja, esta é a época do calendário onde os jogadores estarão participando dos principais torneios da temporada. Muitos jogos e situações de jogos compõe a maior parte do treinamento nesta fase. Aqui, a intensidade técnica e física deve ser alta ou média e o volume, médio ou baixo.
§ Descanso Completo ou Ativo: geralmente, após o atingimento de um pico de rendimento, é interessante um período de descanso que vai de uma a duas semanas, dependendo da época do ano e calendário. Este período pode ser de descanso completo, onde o atleta não realiza nenhum tipo de treinamento, ou ativo, onde ele realiza treinos leves ou então pratica outros esportes.

O tempo de duração de cada macrociclo depende do número de picos programados, por exemplo, se planejamos 3 picos para o calendário de torneios, uma boa relação duração x macrociclo é: Preparação: de 5 a 8 semanas, Pré-Competição: de 3 a 7 semanas, Competição: de 4 a 8 semanas e Descanso: 1 a 2 semanas. No entanto vale lembrara que isto não é uma regra, pois o tempo de duração de cada macrociclo pode variar conforme a programação do técnico, calendário, número de picos anuais entre outros.
É interessante ressaltar também, que alguns técnicos “pulam” o macrociclo de pré-competição, principalmente no final do ano ou calendário.

Picos de Rendimentos

Para melhor compreensão do atleta, estabeleça uma escala de rendimento para cada torneio do calendário, escala essa que pode ir de 1 a 10, conforme o que foi colocado no planejamento anual. Os picos não necessariamente estarão sempre nas escala 10, mas é interessante que pelo menos um deles atinja a escala máxima, para que isto sirva como efeito motivador a seu atleta.

Faça o teste, tente estabelecer uma escala de picos de rendimento baseado no calendário de seu atleta, os resultados podem ser surpreendentes, além de ser uma excelente ferramenta de organização para o treinador.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Obrigado Guga..

Escrevo hoje meu primeiro artigo no blog e, por se tratar de um blog dedicado exclusivamente ao tênis, escolhi escrever sobre a despedida de Guga das quadras. Roland Garros está chegando e, portanto está chegando o dia da última partida de Guga como tenista profissional.
O que escrever sobre o Guga que não seja óbvio ou que já não tenha sido escrito?
Fiquei pensando nesta pergunta e olhando para a tela do meu computador por pelo menos 30 min e decidi tentar passar à vocês minha impressão como ex-jogador, ou pelo menos como um jovem tenista via o tênis antes do Guga e como ele vê hoje.
Comecei a jogar tênis com 4 anos de idade em São José dos Campos, e desde então seja como jogador ou como técnico, sempre estive envolvido com alguma coisa relacionada a este nosso esporte maravilhoso. Quando se é jovem e está iniciando em algum esporte, além da dedicação, amor ao esporte e sobretudo diversão, a criança sempre se espelha em algum astro deste esporte, imita seus golpes, sua maneira de agir, suas roupas e tudo que o aproxime deste modelo. O Brasil, até o aparecimento do Guga sempre teve ótimos jogadores, que fizeram história e, que de maneira nenhuma pretendo aqui diminuir ou minimizar suas conquistas.
No entanto, para jovens que cresceram entre os anos 70 e 90 os ídolos, os modelos eram sempre jogadores como Arthur Ashe, Yanick Noah, Matts Wilander, John Mcenroe, Bjorn Borg, Ivan Lendl, Boris Becker, Pete Sampras, André Agassi e tantos outros que brilhavam no tênis em sua época. Era estranho porque, se por um lado adorávamos e torcíamos por jogadores brasileiros no circuito, sempre sentíamos que os ídolos estavam longe.
Nosso sonho era ser número 1 do mundo, ganhar grandes torneios, viajar o mundo, mas parecia que este sonho era inacessível e que uma barreira de realidade não nos permitia acreditar que aquilo que queríamos poderia ser alcançado. Nós sabíamos que poderíamos ser excelentes juvenis, a exemplo de tantos outros que antes de nós ocuparam as primeiras posições do ranking e tiveram excelentes resultados. Mas no Profissional, alguma voz, lá no fundo, dizia “Espera aí!!!! Isso já é demais pra você!”
Quantos juvenis brasileiros fizeram sucesso mundo à fora, tiveram grandes oportunidades em função disto e mesmo assim não conseguiram alcançar grandes resultados no Profissional?
Dentre outros fatores, mais ou menos importantes, eu acredito que a falta do ídolo afetava diretamente estes grandes talentos.
Até que de repente, aparece um cara que além de ter sido um dos melhores juvenis do mundo resolveu acreditar que poderia ser igual a seus ídolos. Que mesmo adorando e se espelhando neles, o que ele gostaria mesmo era de “ganhar” deles, sem dó.
O Guga é um exemplo de superação, de luta e, sobretudo de confiança em si mesmo da história do esporte mundial. Além de vencer todas as barreiras que um país sem a menor tradição no esporte pode proporcionar, Guga venceu a si mesmo, ou pelo menos ele venceu o pensamento comum, ele achou que este pensamento não era real e que um outro deveria ser buscado. E isso meu amigo, é o mais difícil de tudo!
E ele Conseguiu!!!!
Hoje, todo jovem tenista brasileiro quer ser o Guga, e com isso acredita que é possível fazer o que ele fez, acredita que ele também pode entrar para história do Tênis e isso nada mais é, do que acreditar nele próprio, a base de todo grande tenista. A confiança em si mesmo é sempre uma característica marcante das grandes estrelas do tênis.
Uma característica que a grande maioria de nós jovens tenistas brasileiros não tínhamos e que de repente nos foi “apresentada” pelo Sr. Gustavo Kuerten.
Talvez você pergunte: “Porque então, não apareceram novos grandes tenistas profissionais após o Guga?”. Simplesmente, porque infelizmente o aparecimento de Guga mudou nosso interior, mas o exterior continua o mesmo. A falta de organização, apoio, trabalho de base e divulgação de nosso esporte continua igual sempre foi. Alguma ações estão sendo tomadas, mas ainda estamos longe de dizer que somos exemplo para outros países.
Este feito mostra a grandeza deste atleta, mostra também a nossos jovens talentos que o sucesso só vem depois de anos de trabalho duro, que a única maneira de transpor esta “barreira de realidade” que escrevi acima é acreditando em si e trabalhando muito, sem descanso, sem distração.
Quando falo ou penso em Guga, é sempre isto que vem a minha mente, um cara que mudou a história de um esporte e principalmente mudou a maneira de pensar de várias gerações, de jovens tenistas e técnicos que hoje trabalham acreditando que podem conseguir seus objetivos.
OBRIGADO GUGA!!!!!
Todos sentiremos saudades de lhe ver jogando, mas isto nunca nos distanciará daquilo que você nos ensinou a acreditar.