domingo, 13 de julho de 2008

O Jogador Perfeito - Parte IV

Tanto no voleio de esquerda como no de direita, algumas observações são necessárias para entendermos porque o voleio de Federer é considerado um dos melhores do mundo. Em bolas altas ou baixas, Federer sempre consegue executar um bom voleio e, na maioria das vezes, utilizar este golpe para atacar seus oponentes. Vamos estudar algumas características destes golpes de Federer.
Cabeça
Duas observações são importantes em relação ao posicionamento da cabeça de Federer durante a execução do voleio:
- No momento do impacto, podemos notar que a cabeça de Federer está alinhada com seu pé esquerdo (1), podemos traçar uma linha do início da cabeça até o meio do pé esquerdo. Isto produz um centro de gravidade que dificulta a perda de equilíbrio durante a execução do golpe, e o equilíbrio durante o voleio é um dos maiores fatores de sucesso ou não durante a execução do golpe.
- Repare que Federer praticamente toca seu ombro (na direita) ou peito (na esquerda) com o queixo durante o impacto (2), e mais importante, mantém esta posição após o contato com a bola. Alguns jogadores movem a cabeça prematuramente tentando acompanhar a bola, ocasionando uma maior dificuldade de colocação e controle do golpe.

Braço Esquerdo

Tanto no voleio de direita como de esquerda, o braço esquerdo de Federer é essencial para a execução do golpe. Repare que no voleio de direita ele abre o braço durante o golpe, lembrando o posicionamento de um equilibrista ao se equilibrar em um arame ou corda. Na esquerda o braço esquerdo é mantido atrás do corpo, lembrando muito o movimento que Federer executa no slice e também com a intenção de manter o equilíbrio (3).

Punho

Como todo grande voleador, Federe mantém a cabeça da raquete acima do punho (4), o que proporciona maior controle e potência do golpe. Vale lembrar que para tal, é necessário executar o trabalho de flexão dos joelhos, sobretudo em bolas baixas.

Quadris

Por último, vale notar que durante a execução do golpe, Federer mantém seus quadris perpendiculares a rede (5), proporcionando uma melhor colocação dos golpes tanto na paralela com na cruzada.


terça-feira, 1 de julho de 2008

O Jogador Perfeito - Parte III

Em continuação a série de artigos sobre o jogador perfeito, hoje vemos analisar quais os pontos que diferenciam a biomecânica do saque de Roddick

Pés
Quando Roddick lança a bola e dobra os joelhos, ele imediatamente se equilibra na ponta dos pés. O espaço entre os pés não acompanha os ombros, porque Roddick não junta os pés quando saca. Esse movimento onde não há junção dos pés é um pouco mais fácil, pois elimina uma parte da coordenação do movimento, no entanto é indicado a jogadores altos ou com boa impulsão, pois ao juntar os pés o jogador consegue subir mais alto em direção a bola.
Repare na foto abaixo, que a abertura dos pés é ligeiramente inferior a amplitude dos ombros de Roddick. Isso deixa o jogador em equilíbrio e pronto para saltar durante a execução do golpe.



Joelhos
Devido ao movimento curto no backswing, Roddick é obrigado a abaixar os joelhos um pouco mais rápido que jogadores que possuem um movimento maior durante a execução do saque, além disso, este movimento requer uma flexão máxima dos joelhos para que o jogador possa saltar mais alto durante a execução do golpe. Este é um ponto crítico a jogadores que optam por este movimento, pois se a velocidade da flexão dos joelhos não acompanhar a velocidade da raquete no backswing a eficiência do serviço será prejudicada. Esta flexão de joelhos rápida é o que dá a aparência explosiva do saque de Roddick. Repare nas fotos abaixo, a perfeita flexão dos joelhos e altura que o jogador chega no momento do saque.



Backswing
O grande segredo de Roddick ao utilizar o backswing curto é a extrema velocidade com que ele abaixa o ombro direito e depois faz o movimento inverso em conjunto com uma pequena rotação. Ele compensa a falta de movimento dos braços e rotação dos ombros com uma excelente elevação dos mesmos, que é o que vai gerar a famosa potência do saque de Roddick. Jogadores, principalmente amadores que optam por este tipo de saque tendem a diminuir o movimento no backswing mas não compensar na elevação dos ombros, o que irá gerar perda de potência e possível lesão ou dor nos ombros, braço e cotovelo.

Toss
Como não poderia deixar de ser, este movimento curto requer um toss mais baixo, mas também muito mais preciso, para tal podemos notar que Roddick trava seu pulso na hora do lançamento, pois qualquer movimento do pulso na hora do toss pode gerar uma perda de controle do mesmo.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O Jogador Perfeito - Parte II

Dando continuidade a série de artigos sobre o jogador perfeito segundo Guga, vamos analisar o backhand de David Nalbandian.

GRIP
Nalbandian utiliza continental na mão direita e, na mão esquerda algo bem próximo a um western o que, em outros jogadores, pode atrapalhar o giro necessário do pulso para execução do top spin. Mas Nalbandian consegue utilizar esta empunhadura tanto para bolas com potência como pra bolas com efeito.

PREPARAÇÃO/BACKSWING
Quando inicia a preparação, Nalbandian eleva ligeiramente a cabeça da raquete conforme inicia o movimento de backswing e, nesta preparação, que em minha opinião é melhor do que aquela na qual o jogador inicia com a raquete paralela ao solo mas não eleva a raquete atrás do corpo, o jogador tem que derrubar a cabeça da raquete rapidamente no final do backswing para poder imprimir maior top spin à bola. Note na seqüência abaixo o trabalho de elevação da raquete durante o backswing.

Repare que Nalbandian não derruba a cabeça da raquete bruscamente, o que o permite ter uma terminação de golpe não tão dependente de seu trabalho com os pulsos.


PONTO DE CONTATO
Nalbandian, pouco antes do contato começa a transferir o peso de seu corpo da perna esquerda para a direita e os joelhos estão levemente flexionados, o que ajuda no equilíbrio e na execução do spin. Alguns jogadores sentem que uma maior flexão dos joelhos pouco antes do impacto ajuda a imprimir maior spin quando necessário, e vemos isto claramente no backhand de Nalbandian. Finalmente, na hora do contato da raquete com a bola, repare que este é feito bem à frente do corpo (fato este que pode ser visto através da quase que total extensão do braço esquerdo) e esse ponto de impacto à frente do corpo o ajuda muito na hora de mudar a direção da bola. Esta preparação de Nalbandian, com o braço bem estendido e com o ponto de contato bem à frente enfatiza aquilo que é dito por vários técnicos, que o backhand com duas mãos se assemelha muito a um forehand, pois o braço esquerdo realiza praticamente todo o trabalho, sobrando para o direito simplesmente a função de equilíbrio do golpe. Repare na seqüência abaixo como, na primeira foto Nalbandian está apoiando o peso na sua perna esquerda e no fim da seqüência ele já transferiu o peso para a perna direita. Repare também a extensão do braço no momento do impacto.


TERMINAÇÃO
Em função do excelente trabalho na preparação do golpe, Nalbandian termina com uma perfeita rotação dos quadris e ombros, o que lhe ajudará muito na hora de imprimir potência e, devido à extensão do braço esquerdo consegue terminar com o ombro esquerdo quase que a 90° do solo.


domingo, 15 de junho de 2008

O Jogador Perfeito - Parte I

Hoje vamos dar início a análise dos golpes daquele que, segundo Guga, seria o jogador perfeito. Em recente entrevista Guga mesclou golpes de vários jogadores para definir o que, para ele seria o jogador completo. Os golpes e respectivos jogadores eram:
Forehand - James Blake. O norte-americano tem pouca amplitude no golpe e ainda assim consegue imprimir enorme velocidade à bola.
Backhand - David Nalbandian. O golpe com duas mãos permite ao argentino trocar com grande facilidade a direção da bola e seria um dos segredos para incomodar tanto Roger Federer.
Saque - Andy Roddick. Segundo Guga, é um movimento solto e que, quando pega em cheio, não tem mesmo qualquer defesa.
Voleio - Roger Federer. Movimento muito natural, preciso e leve.
Concentração - Rafael Nadal. Está sempre dentro do jogo e impõe respeito até mesmo a Federer.
Carisma - Novak Djokovic. Com suas imitações e jeito divertido, consegue interagir com o público.
Vamos começar analisando o forehand de James Blake.
Segundo Guga, o forehand de Blake é um golpe com pouca amplitude e muita potência e a seguir vamos analisa-lo desde o grip até a terminação.
Grip
Para situarmos o grip de James Blake dentre os clássicos existente, dizemos que ele utiliza o grip semi-western. No entanto, assim como Federer, Blake mantém parte de sua mão fora da raquete, o que a deixa um pouco mais solta e portanto faz com que ele consiga trabalhar “entre grips”. Ao contrário de Federer que possui um grip um pouco mais conservador (mais próximo do eastern), o de Blake tende a se encontrar mais próximo do semi-western. Este grip semi-western um pouco modificado e com a mão mais em baixo permite também uma maior utilização do pulso, o que ajuda Blake na hora de gerar potência e efeito.

Pés e Backswing

Como a maioria dos jogadores que utilizam grips mais extremos (semi e full western), Blake quase sempre entra na bola em posição aberta ou semi-aberta, o que proporciona uma rotação completa de quadril e ombros.
No entanto, o que mais chama atenção no golpe de Blake (e que foi considerado por Guga) é a amplitude de seu movimento, ou seja, o tamanho da rotação de seu braço ao redor dos ombros. Talvez por ser um jogador que cresceu em quadras rápidas, Blake conseguiu aliar um curto backswing com uma potência semelhante a jogadores como Gonzalez, e isto é um diferencial, pois com movimentos menores o jogador ganha muito mais tempo para execução do golpe. Sua potência vem de dois fatores, a máxima utilização do pulso no final do backswing, e da rotação completa dos quadris e ombros antes e depois do impacto.
Na foto abaixo vemos Blake entrando em posição aberta para execução de forehand e em comparação com Gonzalez, podemos ver a diferença da amplitude do backswing.

Ponto de Contato

O ponto de contato de Blake se situa a frente do corpo, mas pela extensão de seu braço notamos que este ponto poderia ser um pouco mais a frente. No entanto este ponto de contato totalmente a frente facilitaria o trabalho do pulso e conseqüentemente ajudaria a gerar mais efeito e portanto acredito que este atraso se deve à busca de Blake por mais potência em detrimento do efeito.
Na foto abaixo repare a diferença da extensão do braço de Blake em relação a Federer, que é conhecido como o jogador que mais busca o ponto de contato à frente do corpo no circuito profissional.



Terminação

Uma das maiores evoluções do golpe de forehand, além do gripe foi a utilização total da rotação do tronco e ombro para a execução do golpe. Até a bem pouco tempo atrás, os jogadores giravam o tronco e ombro e terminavam o golpe com seu ombro direito (quando destros) quase paralelo a linha de base. No forehand moderno como o de Blake esta rotação pode chegar até 180°, ou seja, na terminação do golpe o ombro direito termina a 90° ou mais em relação a linha de base.

No caso de Blake a raquete termina abaixo da linha do ombro, mas isso não é um fator determinante na potência de seu golpe, e sim a utilização máxima da rotação do quadril e ombros.




domingo, 8 de junho de 2008

Cinco Passos Para Vencer No Saibro


Umas das grandes dúvidas que hoje pairam sobre o mundo do tênis é se Federer conseguirá vencer o Aberto da França algum dia, ainda mais depois desta derrota esmagadora que Nadal lhe impôs hoje.
Na verdade, vários técnicos dizem que é bem provável que ele encerrará sua carreira sem conseguir o título que hoje creio, seja seu maior sonho.
Além de Federer, grandes jogadores não conseguiram triunfar nas quadras de Paris. Sampras, considerado por muitos como o maior jogador de todos os tempos é um exemplo, e junto a eles podemos fazer uma lista de grandes jogadores que também falharam em Roland Garros. Jogadores como Tilden, Newcombe, Ashe, Connors, McEnroe, Becker, Edberg são alguns exemplos.
Porque jogadores com carreiras espetaculares que fizeram história no tênis não conseguem conquistar o título em Roland Garros? Porque a temporada de saibro é aquela em que os títulos dos grandes torneios sempre ficam nas mãos de uns poucos jogadores, denominados no circuito como especialistas em saibro?
Segundo Philippe Azar, são 5 as características comuns a estes jogadores e que os diferenciam dos demais.
1. Paciência;
2. Recuperação;
3. Inteligência;
4. Consistência;
5. Resistência
Apesar dos grandes jogadores acima citados terem triunfado em alguns torneios que antecedem o Grand Slam francês combinando alguns desses elementos, nenhum deles foi capaz de manter esta combinação durante as duas difíceis semanas de jogos em 5 sets de Roland Garros.

Paciência

Especialistas em saibro quando entram em um jogo sempre tem em mente o pensamento de que reconhecem e aceitam o fato de que aquela quadra será sua casa pelas próximas horas e, no que depender dele, não haverá tentativas de “encurtar” este período. Eles simplesmente vêem cada ponto como um jogo diferente, eles lutam e dão o máximo durante todos os pontos, games e sets da partida. Jogar pontos longos é uma regra e eles parecem se renovar física e tecnicamente a cada início de ponto.

Recuperação

No saibro, a duração média de um ponto chega a ser 5 vezes mais longa do que jogos em outras superfícies. A média de duração de pontos em superfícies rápidas fica em torno de 2 a 3 segundos, enquanto que no saibro esta média se eleva para 10 a 12 segundos. No entanto, o tempo de recuperação entre um ponto e outro, ou ainda entre games é o mesmo, independente da superfície onde está sendo jogado o torneio. O especialista em saibro se diferencia devido a sua habilidade de se recuperar rapidamente entre pontos e entre jogos em torneios de saibro.

Inteligência

Os especialistas em saibro vêem o jogo como uma partida de xadrez, onde antecipação e paciência são elementos chave para o sucesso.
Jogadores como Thomas Muster ou Rafael Nadal possuem uma sólida habilidade defensiva, procurando sempre fazer seu adversário bater uma bola a mais e, principalmente, possuem a capacidade de antecipar a jogada de seus oponentes, característica básica de um jogador com base defensiva. Esses jogadores sabem que no saibro a combinação saque, devolução e winner não ocorre freqüentemente, diferente de outras superfícies. No saibro, a velocidade da bola é absorvida pela superfície, tornando muito mais difícil a definição do ponto. Para se ter uma idéia, na grama a bola mantém aproximadamente 70% de sua velocidade após o contato com o solo, enquanto no saibro este índice cai para 59%. A diferença pode não parecer muito grande, mas é significativa quando um jogador tem que responder uma bola de ataque de seu oponente.

Consistência

Os grandes jogadores de saibro passam grande parte de seu treinamento praticando bolas de golpes de fundo, pois sabem que além da consistência nestes golpes, eles precisam desenvolver a habilidade de manter golpes com profundidade constante, impedindo assim o ataque de seus oponentes.
Quando falamos em saibro, temos de lembrar que 55% (ou mais, dependendo do jogador) dos golpes em uma partida são golpes de fundo, número este que mostra a importância da consistência e profundidade dos mesmos.
Obviamente, o golpe mais usado por estes jogadores é o topspin, devido a sua característica de imprimir efeito gerando profundidade e também por ser um golpe de fácil controle que gera consistência.

Resistência

Cada golpe, cada movimento cada passo que um jogador dá durante uma partida de tênis diminui sua resistência, colocando-o mais perto de seu limite. Jogadores especialistas em saibro demoram mais a chegar neste limite, fazendo-nos crer que quanto mais o jogo se estende, mais eles querem alonga-lo.
Jogadores como Muster, Nadal e Chang parecem não ter limite, tornando-se quase que impossível vence-los pelo cansaço, que o diga Lendl que mesmo jogando contra um Chang sofrendo de câimbras no Roland Garros de 1989 não conseguiu derrota-lo após mais de 4 horas de jogo.

Quando analisamos estes fatores que diferenciam um especialista em saibro dos demais jogadores, entendemos o porque da opinião de muitos especialistas que dizem que Roland Garros é o Grand Slam mais difícil de ser conquistado. Habilidades estratégicas, físicas e técnicas são exigidas ao extremo neste torneio, e a combinação destas habilidades durante duas semanas e em jogos de 5 sets que podem demorar mais de 4 horas tem derrubado grandes nomes do tênis durante os últimos anos, que apesar de carreiras brilhantes e indiscutíveis acabam aposentando-se sem conseguir triunfar no saibro francês.

domingo, 1 de junho de 2008

Biomecânica - Parte III

Nessa última parte de nosso estudo sobre biomecânica, vamos estudar a cadeia de coordenação. A cadeia de coordenação compreende os segmentos do corpo humano que, quando em um golpe, possuem uma atividade em série, ou seja, um segmento é utilizado em seqüência de outro, e parte da força e da velocidade gerada no primeiro segmento é transportada ao segmento seguinte.
Isto nos leva a concluir, que a importância da cadeia de coordenação para biomecânica no tênis, é a coordenação dessa transferência de forças entre os segmentos do corpo, ou seja, quanto mais perfeita esta coordenação, maior a aceleração e execução do golpe no final da cadeia.
Os segmentos do corpo estudados na biomecânica aplicada ao tênis são: pernas, quadril, tronco, braço/ombro, cotovelo e pulso.
Para cada segmento existe um foco principal de estudo em biomecânica, que são:
Pernas - flexão e extensão dos joelhos. Veja na seqüência abaixo, o trabalho de extensão e flexão dos joelhos de Gustavo Kuerten durante o saque.


Quadril - rotação do quadril; Na seqüência abaixo a rotação do quadril de Hewitt durante o saque.


Tronco - rotação do tronco; Veja na seqüência abaixo, Moya utilizando ao máximo a rotação do tronco antes e depois de executar um forehand.



Braço/Ombro - rotação do braço ao redor do ombro; Observe a rotação do braço de Sampras durante a execução do backswing de um forehand.



Cotovelo - extensão do cotovelo e pronação do antebraço; Na seqüência abaixo, vemos na primeira foto o trabalho de extensão do cotovelo de Roddick durante o movimento do saque, e nas duas últimas a pronação do antebraço.



Pulso - flexão do pulso. Abaixo, Guga executando a rotação e flexão do pulso em uma terminação de forehand.



Qualquer golpe no tênis passa por esta cadeia de segmentos, e a perfeita execução deste golpe está diretamente ligada com a perfeita coordenação dos segmentos acima descritos.
O golpe, sempre deve iniciar-se em sentido ascendente partindo do solo e deve ser sincronizado e progressivo. Qualquer força ou aceleração diferente da exigida na sincronia do golpe em qualquer um dos segmentos influencia no resultado do golpe final, ou ainda, qualquer progressão que não respeita a ordem: pernas - quadril - tronco - braço/ombro - cotovelo - pulso também irá influenciar negativamente no golpe.
Os principais problemas encontrados na cadeia de coordenação e suas conseqüências são:
1. Não utilização de um dos segmentos do corpo – perda de potência e maior probabilidade de lesão;
2. Má sincronização de força e/ou velocidade de um dos segmentos do corpo – perde de potência e/ou de controle;
3. Uso ineficiente de um dos segmentos do corpo – falta de potência no golpe;
4. Utilização de parte desnecessária do corpo – perde de controle no golpe.
Por último, quando o atleta consegue utilizar de maneira eficiente e coordenada todos os segmentos do corpo, os principais resultados alcançados são:
1. Alcance máximo de potência;
2. Controle total do golpe;
3. Tempo maior para atingir o estado de fadiga;
4. Evita e/ou diminui lesões.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Biomecânica – Parte II


Dando continuidade a nosso estudo sobre biomecânica, hoje discutiremos mais dois princípios biomecânicos utilizados no tênis, que são Momentum (Massa x Velocidade) e Energia Elástica.
Momentum
A relação massa x velocidade, é a força gerada por um corpo e no tênis, existem dois tipos de força a serem estudados, a Linear e a Angular.
A Linear ocorre quando a transferência do peso do corpo em direção ao golpe ocorre em linha reta. O exemplo mais comum aqui é o slice de backhand.
Repare na seqüência abaixo, como Federer quando executa o slice de backhand utiliza ao máximo sua força linear, pois repare que desde a preparação até a terminação, a rotação de ombro e quadril é nula.


Em contrapartida, a força angular é produzida utilizando-se da rotação dos quadris e ombros, como notamos na seqüência de forehand abaixo, onde Fernando Gonzalez utiliza ao máximo a rotação de ombro e quadril para gerar força em seu golpe.


Energia Elástica

A energia elástica é a energia armazenada como resultado do estiramento de um músculo, ou seja, toda vez que um músculo está sendo estirado, existe uma força ou energia que está sendo acumulada neste processo, e esta energia é constantemente utilizada nos golpes de tênis. O exemplo mais comum é o split-step, o qual armazena energia nas pernas e libera esta energia quando aterrissa, impulsionando o corpo do atleta. Nas fotos abaixo, vemos dois momentos no saque de Roddick em que ele está utilizando a energia elástica. Na primeira foto, ele estende o abdômen e utiliza a energia armazenada para pegar a bola o mais alto possível, e na segunda foto, vemos ele armazenando energia no braço que será utilizada no momento da pronação.



Esses são os dois princípios do blog de hoje, no próximo veremos o último princípio, que é a cadeia de coordenação.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Biomecânica - Parte I

Hoje em dia, em qualquer clube ou academia que se ensine tênis e, sobretudo que tenha uma equipe de treinamento, é muito comum ouvirmos falar em biomecânica, mas afinal o que é isso?
Biomecânica é o estudo do movimento humano, e é através dela que podemos estudar e definir os golpes e movimentos de um jogador e tentar fazer com que estes rendam com eficácia máxima.
Através do estudo da biomecânica, tentamos estabelecer o golpe com a melhor combinação de potência e controle e que reduza o máximo possível o risco de lesões.
Para estudar a biomecânica, antes de nos atermos aos golpes em si, é necessário entendermos alguns princípios biomecânicos. No tênis, os princípios biomecânicos utilizados são:
· Equilíbrio;
· Inércia;
· Ação e Reação;
· Momentum (Massa x Velocidade);
· Energia Elástica;
· Cadeia de Coordenação.
Nesse artigo, estudaremos o equilíbrio, a inércia e a ação e reação.

Equilíbrio

Existem dois tipos de equilíbrio, o estático (quando o corpo está parado) e o dinâmico (quando o corpo está em movimento) e, no tênis, que é um esporte de movimento constante, o que nos interessa é o equilíbrio dinâmico.
Aqui, temos que observar se o jogador mantém uma linha vertical (ou próximo disso) desde o solo até a cabeça quando executa um golpe em movimento.Veja na foto abaixo, como Juan Carlos Ferrero, apesar de estar em movimento mantém o corpo quase que totalmente na vertical, demonstrando um belo exemplo de equilíbrio dinâmico.



Inércia

A definição de inércia é: “Qualquer corpo em movimento retilíneo e uniforme (ou em repouso) tende a manter-se em movimento retilíneo e uniforme (ou em repouso).”
No tênis, sofremos a ação da inércia em diversas situações durante um jogo ou treino, ou seja, constantemente estamos sentindo a resistência do corpo ao mover-se ou quando tem que parar.
Quando o jogador está posicionado para devolução de saque, seu corpo está em repouso e deve enfrentar a resistência do mesmo em continuar parado no momento em que o adversário executa o serviço, executando o spli-step e se preparando para sair para um dos lados para executar a devolução.
Ou então, quando o jogador se movimenta para frente para buscar uma bola curta, deve, após executar o golpe, parar o movimento e mudar a direção do mesmo para se posicionar para a bola seguinte.
O estudo da inércia nos golpes é de extrema importância, pois o tempo que o jogador leva para executar movimentos como os descritos acima é de extrema importância para seu desenvolvimento em um jogo.Na foto abaixo, vemos Ana Bogdan enfrentando a resistência que seu corpo tem de permanecer parado, pois estava em repouso.




Ação e Reação
A Terceira Lei de Newton, também conhecida como a Lei da Ação e Reação diz que quando um corpo exerce uma força sobre outro corpo, recebe deste uma força de mesma intensidade, direção e sentido oposto à força aplicada.
No tênis, podemos observar isto em várias situações. Quando um jogador inicia seu movimento de saque, primeiro exerce uma força contra o solo ao flexionar os joelhos (ação) e em seguida sofre uma força de mesma intensidade e direção, mas em direção oposta ao saltar para golpear a bola (reação).
Podemos notar isso na seqüência de Roddick abaixo.


Este é também um princípio de extrema importância, pois todo golpe inicia-se com uma força exercida sobre o solo, e é este início ou força inicial que irá definir e influenciar o desenvolvimento do golpe ou movimento.
Esses são os três princípios do blog de hoje. No próximo, escreverei sobre momentum (massa x velocidade), energia elástica e, no último sobre a cadeia de coordenação, que em minha opinião é o princípio mais importante para técnicos e professores de tênis.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O Forehand Moderno - Posicionamento, Equilíbrio e Transferência de Peso

Como qualquer golpe hoje em dia, o forehand é uma poderosa arma para jogadores em todos os níveis, seja ele executado na zona de conforto (bolas próximas) ou em movimento. Mas para a máxima utilização dessa arma, 3 fatores devem ser lembrados e utilizados freqüentemente.
Posicionamento, equilíbrio e transferência de peso são técnicas inerentes ao golpe e devemos entende-los como:
§ Posicionamento: a posição do corpo (pés, pernas, tronco, ombros, braço, cotovelo e mãos) antes do contato da raquete com a bola;
§ Equilíbrio: o mesmo descrito acima, logo antes e no momento do impacto com a bola;
§ Transferência de peso: a posição e movimento do corpo durante e após o impacto com a bola.

Posicionamento
Um dos erros mais comuns na execução do forehand é encontrado na preparação do golpe, ou seja, no início do backswing que sempre que possível deve ser feito antes do quique da bola, além disso, como hoje se utiliza a posição aberta (open stance) em quase 100% dos golpes, o jogador tende a passar com a cabeça a linha do joelho direito (caso seja destro) no momento da preparação do golpe, e isso faz com que após o impacto o jogador continue concentrando o peso do corpo no mesmo pé, quebrando assim a transferência de peso.
Para correção na preparação, temos que notar se, antes do quique da bola os pés e o posicionamento da raquete no backswing estão corretos. A raquete deve estar atrás do corpo na posição de espera, que é um pouco atrás da linha do corpo e com a cabeça para cima, e os pés devem estar no solo, sendo que o pé direito (se destro) deve estar de paralelo a 45º da linha de base. Além disso, vale notar que o braço esquerdo (quando destro) se encontra quase que paralelo a linha de base, devido a rotação dos ombros antes do impacto com a bola.
Uma maneira simples de identificarmos o correto posicionamento do jogador na hora da preparação é traçarmos uma linha reta e vertical imaginária partindo do joelho direito do jogador. Quando a cabeça do jogador estiver ultrapassando esta linha, o peso do corpo está desbalanceado e deve ser corrigido. Vale notar também que a correta flexão do joelho ajuda muito este tipo de correção.
Este posicionamento correto, além de útil para o equilíbrio, é também essencial para a rotação completa do corpo antes, durante e depois do golpe.





Equilíbrio
O equilíbrio na execução do golpe se refere ao ponto onde devemos concentrar o peso do corpo no momento do impacto da raquete com a bola. No forehand em posição aberta, um dos erros mais comuns em relação ao equilíbrio ocorre quando o jogador concentra o peso do corpo em direção ao seu braço esquerdo ou direito, quando a melhor maneira de obter controle total do golpe é concentrando o mesmo no centro do corpo, ou o mais próximo disto.
No momento do impacto o corpo do jogador deve estar quase que totalmente reto, não tendo nenhum ou quase nenhum grau de inclinação para quaisquer lados. Este posicionamento correto, além de útil para o equilíbrio, é também essencial para a rotação completa do corpo durante o golpe. Repare na foto abaixo, como José Pereira, executando um forehand em movimento, apesar de estar iniciando a rotação dos ombros mantém o tronco praticamente reto, com o joelho corretamente flexionado e a cabeça bem posicionada atrás da linha do joelho esquerdo.


Note também, na foto abaixo que, mesmo com a rotação do tronco já iniciada, Federer mantém a cabeça imóvel, ajudando com isto a manutenção do equilíbrio durante a rotação. Repare que a cabeça dele só irá acompanhar a bola após o término da rotação.
Como a rotação do tronco já foi iniciada, note que apesar do pé direito de Federer se encontrar no solo, é bem claro que o peso de seu corpo não está mais concentrado neste pé, pois aqui ele inicia a transferência de peso. Dependendo do tipo de bola, neste momento o jogador nem se encontra com os pés no solo.


Transferência de Peso
Por último, completando o movimento do golpe, temos que analisar a transferência de peso durante a execução do forehand. A transferência deve ser do lado direito do corpo para o lado esquerdo do corpo.
É comum vermos jogadores que iniciam o golpe concentrando o peso na perna direita, mas na seqüência não transferem o peso a outra perna, seja porque projetam o corpo para trás, mantendo o peso na perna direita, ou ainda porque quebram a transferência simplesmente trocando o posicionamento do pé direito pelo esquerdo. A correta transferência de peso, além de manter o equilíbrio do corpo, permite uma melhor utilização do mesmo, imprimindo maior potência ao golpe, além de posicionar o jogador para a recuperação de quadra e execução do golpe seguinte.



quarta-feira, 14 de maio de 2008

O Perfil do Novo Técnico

Hoje em dia, não só no Brasil, mas ao redor do mundo percebemos que está havendo uma mudança no perfil, ou seja, no conjunto de características e habilidades que um profissional que se propõe a trabalhar com tênis (seja ele competitivo ou social) precisa ter.
“Treinar um jogador, significa ensinar, exercitar e ajudar os jogadores a aprender habilidades relacionadas ao tênis, a melhorar seu rendimento e alcançar seu potencial. Mas também requer reconhecimento, compreensão e atenção de suas necessidades sociais emocionais e pessoais”(Martens, 1981; 1987).
Essa definição, que na minha opinião é uma das mais completas, nos mostra que o papel do treinador hoje é bem mais abrangente e extrapola os limites da quadra de tênis, principalmente quando trabalhamos com crianças e jovens.
O técnico hoje antes de qualquer coisa tem que responder a quatro perguntas que irão acompanhá-lo durante toda sua carreira:
“Qual a minha motivação para trabalhar como técnico de tênis?
“Quais são meus pontos fortes e fracos como técnico?”
“Qual é meu grau de dedicação e entrega a profissão?”
“Quais objetivos quero alcançar como técnico de tênis?”
A última questão é uma das mais importantes, pois é onde este profissional vai definir se vai construir sua carreira trabalhando com tênis social ou competitivo.
Segundo a ITF, a Federação Internacional de Tênis, o treinador possui distintos papéis a desempenhar durante sua carreira como técnico de tênis:
- Instrutor: dirigindo as atividades de seus alunos/jogadores;
- Professor: compartilhando conhecimentos e idéias novas;
- Motivador: proporcionando um enfoque positivo e de alta qualidade ao jogador;
- Educador: estabelecendo prêmios e sanções apropriados;
- Diretor: dirigindo e guiando os jogadores durante sua “carreira” no esporte;
- Administrador: planejando treinamentos com organização e eficácia;
- Agente de Publicidade / Comunicação: servindo de elo entre os meios de informação e o público em geral;
- Assistente Social: aconselhando, assessorando e dando apoio a seus jogadores, principalmente em momentos difíceis;
- Amigo: estabelecendo um bom relacionamento com o jogador;
- Analista: analisando, avaliando e tirando conclusões a respeito do esporte e de seu jogador;
- Estudioso: escutando, aprendendo, refletindo e buscando continuamente formas de melhorar e superar-se.

O papel do treinador é combinar todos estes papéis durante sua carreira. Nós técnicos temos que nos perguntar constantemente qual ou quais destes papéis necessitam de aprimoramento e, quando detectarmos isto procurarmos soluções para os mesmos.
Aqui em meu blog vou procurar discutir, dentre outros assuntos, um pouco de cada um dos papéis acima descritos, mas a pergunta que eu deixo aqui e que cada um deve fazer a si mesmo é:
Eu estou preparado para desempenhar estes papéis em minha carreira?

terça-feira, 6 de maio de 2008

Pico de Rendimento e Calendário

Os picos de rendimento e o calendário do atleta são duas ferramentas essenciais para o desenvolvimento da carreira de um tenista, há técnicos inclusive que os considere as duas ferramentas mais importantes no desenvolvimento desta carreira.
Você já faz isso?
Engana-se aquele que pensa que estas duas ferramentas só podem ser utilizadas com jogadores de alto rendimento, sejam eles juvenis ou profissionais, pois utiliza-las com seu aluno em seu clube ou academia, além de proporcionar excelentes resultados em relação a evolução do jogador, proporciona um diferencial de sua aula em relação a outros técnicos/professores. A única exigência para utilização destas ferramentas é que o atleta/aluno esteja disposto a participar de torneios durante o ano.
Mas afinal oque é isto?
Para estabelecer os picos de rendimento do atleta/aluno é necessária uma planificação de treinamento, seja ele tático, físico, técnico, mental ou fisioterápico baseado na programação de torneios do jogador durante o ano ou temporada.
Para isto, algumas ações se fazem necessárias:
§ O treinamento e o calendário devem estar voltados a alcançar o ponto máximo de rendimento nas competições mais importantes da temporada;
§ Este ponto máximo de rendimento deve ser definido com participação do técnico/professor junto com atleta/aluno, além dos demais profissionais envolvidos na equipe, como preparadores físicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e etc;
§ Pode-se estabelecer no máximo, de 5 a 6 picos por ano, visto que não é possível manter o pico de rendimento durante o ano todo;
§ A programação de treinamento deve realizar-se em ciclos, respeitando-se o equilíbrio entre carga máxima e períodos de recuperação;
§ Os períodos de recuperação são tão importantes como os de carga máxima.

Planejamento Anual e Macrociclos de Treinamento

O planejamento anual de um tenista, é a junção dos picos de rendimento, calendário e tipos de treino a serem realizados durante o ano, e para isto, há que se dividir este treinamento em Macrociclos. Os 4 Macrociclos mais utilizados são:
§ Preparação: geralmente é o que vai abranger a pré ou intertemporada, ou seja, é o treino que geralmente é realizado depois de um período mais longo de descanso, e onde aproveitamos para trabalhar correções e aperfeiçoamentos técnicos. A relação intensidade x volume de treinamento aqui geralmente é intensidade baixa e volume alto tanto para treinos técnicos como físicos;
§ Pré-Competição: este é o período anterior às competições, no entanto dentro dele podem haver algumas competições que servirão de preparação para aqueles torneios mais importantes e que tenham um pico de rendimento maior. Aperfeiçoamentos técnicos e treinos táticos são partes constantes desta fase de treinamento. Aqui utilizamos uma intensidade e volume médios, tanto para treinos técnicos como físicos.
§ Competição: esta é fase onde estaremos atingindo os picos programados, ou seja, esta é a época do calendário onde os jogadores estarão participando dos principais torneios da temporada. Muitos jogos e situações de jogos compõe a maior parte do treinamento nesta fase. Aqui, a intensidade técnica e física deve ser alta ou média e o volume, médio ou baixo.
§ Descanso Completo ou Ativo: geralmente, após o atingimento de um pico de rendimento, é interessante um período de descanso que vai de uma a duas semanas, dependendo da época do ano e calendário. Este período pode ser de descanso completo, onde o atleta não realiza nenhum tipo de treinamento, ou ativo, onde ele realiza treinos leves ou então pratica outros esportes.

O tempo de duração de cada macrociclo depende do número de picos programados, por exemplo, se planejamos 3 picos para o calendário de torneios, uma boa relação duração x macrociclo é: Preparação: de 5 a 8 semanas, Pré-Competição: de 3 a 7 semanas, Competição: de 4 a 8 semanas e Descanso: 1 a 2 semanas. No entanto vale lembrara que isto não é uma regra, pois o tempo de duração de cada macrociclo pode variar conforme a programação do técnico, calendário, número de picos anuais entre outros.
É interessante ressaltar também, que alguns técnicos “pulam” o macrociclo de pré-competição, principalmente no final do ano ou calendário.

Picos de Rendimentos

Para melhor compreensão do atleta, estabeleça uma escala de rendimento para cada torneio do calendário, escala essa que pode ir de 1 a 10, conforme o que foi colocado no planejamento anual. Os picos não necessariamente estarão sempre nas escala 10, mas é interessante que pelo menos um deles atinja a escala máxima, para que isto sirva como efeito motivador a seu atleta.

Faça o teste, tente estabelecer uma escala de picos de rendimento baseado no calendário de seu atleta, os resultados podem ser surpreendentes, além de ser uma excelente ferramenta de organização para o treinador.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Obrigado Guga..

Escrevo hoje meu primeiro artigo no blog e, por se tratar de um blog dedicado exclusivamente ao tênis, escolhi escrever sobre a despedida de Guga das quadras. Roland Garros está chegando e, portanto está chegando o dia da última partida de Guga como tenista profissional.
O que escrever sobre o Guga que não seja óbvio ou que já não tenha sido escrito?
Fiquei pensando nesta pergunta e olhando para a tela do meu computador por pelo menos 30 min e decidi tentar passar à vocês minha impressão como ex-jogador, ou pelo menos como um jovem tenista via o tênis antes do Guga e como ele vê hoje.
Comecei a jogar tênis com 4 anos de idade em São José dos Campos, e desde então seja como jogador ou como técnico, sempre estive envolvido com alguma coisa relacionada a este nosso esporte maravilhoso. Quando se é jovem e está iniciando em algum esporte, além da dedicação, amor ao esporte e sobretudo diversão, a criança sempre se espelha em algum astro deste esporte, imita seus golpes, sua maneira de agir, suas roupas e tudo que o aproxime deste modelo. O Brasil, até o aparecimento do Guga sempre teve ótimos jogadores, que fizeram história e, que de maneira nenhuma pretendo aqui diminuir ou minimizar suas conquistas.
No entanto, para jovens que cresceram entre os anos 70 e 90 os ídolos, os modelos eram sempre jogadores como Arthur Ashe, Yanick Noah, Matts Wilander, John Mcenroe, Bjorn Borg, Ivan Lendl, Boris Becker, Pete Sampras, André Agassi e tantos outros que brilhavam no tênis em sua época. Era estranho porque, se por um lado adorávamos e torcíamos por jogadores brasileiros no circuito, sempre sentíamos que os ídolos estavam longe.
Nosso sonho era ser número 1 do mundo, ganhar grandes torneios, viajar o mundo, mas parecia que este sonho era inacessível e que uma barreira de realidade não nos permitia acreditar que aquilo que queríamos poderia ser alcançado. Nós sabíamos que poderíamos ser excelentes juvenis, a exemplo de tantos outros que antes de nós ocuparam as primeiras posições do ranking e tiveram excelentes resultados. Mas no Profissional, alguma voz, lá no fundo, dizia “Espera aí!!!! Isso já é demais pra você!”
Quantos juvenis brasileiros fizeram sucesso mundo à fora, tiveram grandes oportunidades em função disto e mesmo assim não conseguiram alcançar grandes resultados no Profissional?
Dentre outros fatores, mais ou menos importantes, eu acredito que a falta do ídolo afetava diretamente estes grandes talentos.
Até que de repente, aparece um cara que além de ter sido um dos melhores juvenis do mundo resolveu acreditar que poderia ser igual a seus ídolos. Que mesmo adorando e se espelhando neles, o que ele gostaria mesmo era de “ganhar” deles, sem dó.
O Guga é um exemplo de superação, de luta e, sobretudo de confiança em si mesmo da história do esporte mundial. Além de vencer todas as barreiras que um país sem a menor tradição no esporte pode proporcionar, Guga venceu a si mesmo, ou pelo menos ele venceu o pensamento comum, ele achou que este pensamento não era real e que um outro deveria ser buscado. E isso meu amigo, é o mais difícil de tudo!
E ele Conseguiu!!!!
Hoje, todo jovem tenista brasileiro quer ser o Guga, e com isso acredita que é possível fazer o que ele fez, acredita que ele também pode entrar para história do Tênis e isso nada mais é, do que acreditar nele próprio, a base de todo grande tenista. A confiança em si mesmo é sempre uma característica marcante das grandes estrelas do tênis.
Uma característica que a grande maioria de nós jovens tenistas brasileiros não tínhamos e que de repente nos foi “apresentada” pelo Sr. Gustavo Kuerten.
Talvez você pergunte: “Porque então, não apareceram novos grandes tenistas profissionais após o Guga?”. Simplesmente, porque infelizmente o aparecimento de Guga mudou nosso interior, mas o exterior continua o mesmo. A falta de organização, apoio, trabalho de base e divulgação de nosso esporte continua igual sempre foi. Alguma ações estão sendo tomadas, mas ainda estamos longe de dizer que somos exemplo para outros países.
Este feito mostra a grandeza deste atleta, mostra também a nossos jovens talentos que o sucesso só vem depois de anos de trabalho duro, que a única maneira de transpor esta “barreira de realidade” que escrevi acima é acreditando em si e trabalhando muito, sem descanso, sem distração.
Quando falo ou penso em Guga, é sempre isto que vem a minha mente, um cara que mudou a história de um esporte e principalmente mudou a maneira de pensar de várias gerações, de jovens tenistas e técnicos que hoje trabalham acreditando que podem conseguir seus objetivos.
OBRIGADO GUGA!!!!!
Todos sentiremos saudades de lhe ver jogando, mas isto nunca nos distanciará daquilo que você nos ensinou a acreditar.